É claro que inúmeros fatores pesam nesse debate, desde a conjuntura do mercado até a facilidade de obter crédito e os custos de oportunidade. Mas uma das maneiras de descobrir o melhor caminho é entender se você (ou a sua empresa) é uma raposa ou um porco-espinho.
Em geral, assume-se que o significado é simplesmente que a raposa, embora tenha mil artimanhas, é derrotada pela defesa eficiente do porco-espinho. Mas Berlin toma a frase como início de uma análise que divide as mentes criadoras em dois times: as raposas, que apostam em estratégias diversificadas, e os porcos-espinhos, que perseveram em um só princípio.
Porcos-espinhos gostam da coerência, da ordem, do princípio fundamental. Raposas perseguem ideias diversificadas, frequentemente não relacionadas umas às outras, difusas, talvez até contraditórias.
Platão, Nietzsche, Hegel, Proust, Dostoievsky eram porcos-espinhos. Heródoto, Montaigne, Aristóteles, Joyce eram raposas.
Extrapolando a análise de Berlin para o mundo dos negócios, Steve Jobs, com sua obsessão pelo design e pelo sistema fechado, seria um porco-espinho. Thomas Edison, com seus mil inventos, seria uma raposa.
Qual é melhor? Evidentemente, não há resposta. Ou melhor, não há resposta externa. O mundo precisa de raposas como Leonardo da Vinci e de porcos-espinhos como Albert Einstein.
Talvez algumas épocas sejam mais propícias a um tipo, outras ao outro. Mas é provavelmente mais correto seguir a inclinação da sua personalidade do que tentar adivinhar qual o modelo mais certo para o momento.
E há, ainda, um caso especial. O ensaio de Berlin trata, na verdade, da obra de Tolstoi, e a divisão dos dois campos feita no início é uma elegante maneira de expor um gênio criativo que não cabia na análise. Ele era raposa e porco-espinho, generalista e especialista, coerente e disperso, focado e experimentador. Um gênio preparado para Guerra e Paz.